11 de setembro de 2010

O CRUZEIRO DO PICO MATIAS SIMÃO

desenho de Mestre Maduro Dias, projectista do monumento
CRUZEIRO DA INDEPENDÊNCIA
Falar do Pico Matias Simão, é recordar o monumento ali erigido em 1940, cuja inauguração ocorreu a 8 de Dezembro. Este monumento assinala as comemorações dos centenários; a saber, 8 séculos da fundação de Portugal e 3 séculos da Restauração da Independência após o domínio espanhol.
O Revdo. Dr. Manuel Cardoso de Couto, cuja biografia contamos publicar em  breve foi o homem da ideia, mestre Maduro Dias o projectista e Monsenhor  Inocêncio Enes o líder da obra, que foi suportada pelo altarenses residentes e emigrados.






















O CRUZEIRO DA INDEPENDÊNCIA
FOI INAUGURADO NA FREGUESIA DOS
ALTARES, COM UMA FESTA CHEIA DE
ELEV ADA ESPIRITUALIDADE

A laboriosa população da vasta e progressiva freguesia dos Altares esteve em festa no último domin­go - 8 de dezembro - festa que inundou todos os corações de lídimos sentimentos de exaltação cristã e patriótica e que decorreu num ambiente de elevada espiritualidade.

O povo dos Altares inaugurou nesse dia com a solenidade própria do ato o seu Cruzeiro da Inde­pendência com que magnificamente se associou ás comemorações nacionais do oitavo centenário da Fundação e do terceiro centenário da independência de Portugal.
Ideia nobre e generosa do nosso ilustre Diretor revdº. sr. Dr. Manuel Cardoso do Couto, distinto filho dos Altares, que, com a decisão e boa vontade que o caracterizam lhe deu vulto e tornou consoladora rea­lidade - teve o mais caloroso apoio não só do digno Pároco daquela freguesia revdº. sr. Padre Inocêncio Enes mas de toda a população que unanimemente louvou e aplaudiu a bela iniciativa do seu querido conterrâneo.
A Natureza associou-se ao júbilo dos altarenses, proporcionando-lhes um dia magnífico, um daqueles belos dias de sol que tanto caracterizam a quadra ou­tonal das nossas ilhas,
As solenidades deste dia que fica inscrito a letras de oiro na história da freguesia dos Altares, começa­ram pela festa em honra de Nossa Senhora da Con­ceição que foi precedida de triduo com praticas.
De manhã. houve numerosa comunhão geral.
A missa solene foi cantada pelo revdº. Pároco sr. Padre Inocência Enes. acolitado pelos revdºs. srs. Pa­dre António da Costa Moules, Pároco dos Biscoitos e Padre José Gonçalves Toledo, dedicado altarense.
Ao Evangelho pregou o revdº. sr. dr. Cardoso do Cauto. Serviu de mestre de cerimónias o revdº. sr. Padre Henrique Pamplona.
A música foi otimamente desempenhada pela ca­pela da freguesia, coadjuvada por um grupo de sa­cerdotes.
A igreja que estava apinhada de fiéis, encontra­va-se ornamentada com gosto e brilho.

***
Cerca das 3 horas da tarde reuniram-se no largo da. igreja o exmo. Governador substituto do Distrito, sr. dr. Francisco Lourenço Valadão Jr., o exmo. Direc­tor da Secretaria Notarial. sr. dr. Henrique Braz, o exmo capitão do Porto e Comandante da. Legião Portugue­sa, sr. 1º. tenente Eduardo Augusto da Costa Cabral Metzener, os revdºs. srs. dr. Manuel Cardoso do Cou­to, Padre José Gonçalves Toledo, Padre Henrique Pamplona, Padre Artur Botelho de Paiva, Padre An­tónio da Costa Moules, Padre José da Costa, Padre António Pereira Rodrigues, Padre Inocéncio Enes, Pa­dre Ivo Berbereia, o sr. Gregório N. Ferreira, também dedicado filho dos Altares, e o Chefe da Redação deste jornal.
A chegada do exmo. Governador foi assinalada com o estralejar de muitos foguetes, tendo nessa ocasião a banda de música da freguesia executado o seu hino.
Organizou-se em seguida o cortejo. indo à frente as crianças da Cruzada Eucarística e filiados da Ac­ção Católica. Fechava-o uma compacta massa de povo.
Durante o trajeto a banda executou lindos ordi­nários.
Dirigiu-se o cortejo para o Pico de Matias Simão onde se ergue o Cruzeiro e de onde se desfruta um dos mais surpreendentes e deslumbrantes panoramas que a nossa terra oferece. ­
No célebre Pico que domina a fértil freguesia dos Altares, já se encontravam aguardando o cortejo mi­lhares de pessoas, não só da freguesia, mas das do Raminho e Biscoitos que quiseram associar-se à bela demonstração de Fé e patriotismo dos altarenses. ne­le se incorporando o exmo. sr. dr. Ramiro Machado, Presidente da Junta Geral bem como sua exma. Esposa.
Dificilmente o cortejo avança por entre a compac­ta multidão até chegar junto do Cruzeiro que, embora não estivesse ainda concluído, deixava já que pudés­semos apreciar e avaliar bem o alto sentido de reli­giosidade e nacionalismo que Maduro Dias lhe soube imprimir.
A inauguração começou pela benção do Cruzei­ro a que procedeu o revdº. sr. dr. Couto que em se­guida pronunciou um entusiástico discurso em que deixou falar o seu coração de altarense para dar os parabéns primeiramente ao rever. Vigário que com tanto ardor se empenhara para que se levantasse aque­le Cruzeiro e impulsionara o povo da freguesia ao ponto de ali se encontrar na sua grande maioria a to­mar parte naquele ato festivo; e depois à população dos Altares pelo belo exemplo que assim legava aos vindouros.
Prosseguindo o ilustre orador fez judiciosas e elo­quentes considerações sobre o significado dos Cruzei­ros e terminou por agradecer às Exmas. Autoridades a sua comparência àquele ato que com a presença de suas exªs. se revestia de melhor brilho e solenidade.
Seguiu-se: o Hino Jocista (canto); a poesia «Cru­zeiro da nossa terra», da autoria do Padre Moreira das Neves, recitada pela menina Maria da Conceição Couto com muita expressão e naturalidade e o cânti­co «Nós somos jovens». ­
Levanta-se em seguida o sr. dr. Valadão. O seu discurso, belo na forma e no conceito. foi um mara­vilhoso hino à Cruz da qual dimane uma força estra­nha que tudo vence e tudo domina, essa Cruz que há dois mil anos era o símbolo da ignomínia e que o sacrifício inaudito. as dores inenarráveis, e as afrontas e vitupérios pacientemente suportados por um Homem transformou em símbolo de Fé que arrasta as multi­dões e dá a força e a energia para os maiores come­timentos.
O sr. dr. Valadão foi calorosamente aplaudido. Em continuação do programa seguiram-se os se­guintes números: «p'ra frente restaurar» (cântico); Saudação à Cruz», poesia da autoria do Padre Rocha de Sousa, recitada pela menina Maria Ilda Gomes;
Hino da L. A. C. F.;
«A Cruz mutilada», poesia recitada pela menina Odete Esteves;
«Hino ao Sol» (cântico);
Diálogo pelas meninas Terezinha Lopes e Glória Xavier ;
Aldeias de Portugal (cântico). .
Todos estes números foram muito bem desempe­nhedos, e as crianças que recitaram fizeram-no com graça e vivecidade.
A instâncias do sr. Padre Inocêncio o sr. dr. Ra­miro Machado pronunciou também algumas palavras Feliz e graciosa alocução como todas as que sua exª. tem o condão de improvisar. prendeu por alguns momentos todas as atenções. Quando o sr. dr. Ramiro terminou, uma calorosa salva de palmas demonstrou expressivamente o agrado com que fôra ouvido.
Mais dois cânticos: a «Canção de Porlugal» e o hino sempre empolgante «Salvé nobre padroeira».
E assim terminou o programa da inauguração do Cruzeiro da Independência que ali fica, no Pico de Matias Simão, a dizer às gerações futuras que o povo dos Altares, neste ano das comemorações centenárias do nosso Portugal soube dar um alto testemunho da sua acrisolada fé e do seu firme patriotismo, acolhen­do com o maior carinho a ideia da ereção do mes­mo Cruzeiro sugerida pelo Sr., Dr. Manuel Cardoso do Couto.
Todos os oradores tiveram palavras do melhor apreço para Maduro Dias. Artista de méritos invulga­res que, como já tivemos ocasião de dizer, esta sem­pre pronto a dar a sua brilhante colaboração a todas as manifestações de arfe. E quando Maduro Dias apa­receu junto do Cruzeiro - já a meio da execução do programa, justamente na ocasião em que o sr. dr. Va­ladão se lhe referia, se a memória nos não falha ­acompanhado do distinto engenheiro sr. Custódio Ro­sado Pereira a cuja ação também muito deve aquele cruzeiro, a multidão acolheu-o com uma calorosa ova­ção, que bem traduz o apreço e admiração que todas as classes sociais lhe dispensam.
A essa manifestação nos associamos gostosamen­te e, terminando, não queremos deixar de felicitar vivamente o sr. dr. Cardoso do Couto, nosso ilustre e querido Diretor que, bem o sabemos, dedicou ao le­vantamento do Cruzeiro dos Altares todo o seu em­penho, energia e boa vontade, largamente compensa­dos pela satisfação que sentiu domingo ao ver coroa­do de pleno êxito o seu desejo; bem como o nosso bom amigo sr. Padre Inocêncio Enes que tanto se in­teressou para que se tornasse realidade a magnifica iniciativa do sr. dr. Couto. e ainda a população altarense pela forma tão digna e eloquente como se associou às Festas Centenárias.
Dezembro de 1940
aspecto actual do cruzeiro
MM

Sem comentários:

Enviar um comentário